quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Filho ou escravo?


Qual é meu comportamento diante do meu Pai nos céus: comportamento de escravo ou de filho? Acerca desse assunto, Paulo escreveu aos cristãos de Roma: “Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes em temor, mas recebestes o Espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai.” (Rm 8:15). Prestemos atenção à diferença: “espírito de escravidão” fala de serviços que nem recebem pagamento. Escravos ficavam dentro de casa, mas não faziam parte da família; trabalhavam duramente enquanto seu senhor os observasse, sempre tangidos pelo temor de açoites. Tentavam agradar seus senhores, mas não por amor. Com um filho tudo é diferente! Recebemos o espírito de adoção, e por isso servimos como filhos, como amor, porque fazemos parte da família, da família de Deus. Não servimos para agradar à vista, mas de todo o coração. Enquanto um escravo não vê a causa de seu senhor como sua e apenas cumpre suas obrigações, o filho se empenha pelos assuntos de seu pai com naturalidade, pois sabe que o pai o ama!

Os escravos Vivian em medo constante de serem pegos de castigados. Filhos vivem em liberdade, sabem que são amados pelo pai e aceitam a disciplina: “Filho meu, não desprezes a correção do Senhor, E não desmaies quando por ele fores repreendido;” (Hb 12:5). Percebemos a diferença? Escravos eram punidos por suas falhas e erros; o Pai nos disciplina para nos ensinar, para que aprendemos, para que sejamos transformados. “Porque aqueles, na verdade, por um pouco de tempo, nos corrigiam como bem lhes parecia; mas este, para nosso proveito, para sermos participantes da sua santidade.” (Hb. 12:10). Escravos nem queriam ficar parecidos com seus amos, ao passo que filhos desejam, de todo o coração, tornar-se semelhantes a seu pai. Na época em que a carta aos Hebreus foi escrita, os crentes hebreus (judeus cristãos) estavam em perigo de perder de vista essa maravilhosa realidade. Por isso o alerta: “se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois então bastardos, e não filhos.” (Hb. 12:8).  Filho ou bastardo? O que é um bastardo? Não é nem uma coisa nem outra, uma infeliz mistura, uma criança ilegítima.

Não esqueçamos jamais: “que filho há a quem o pai não corrija?” (Hb. 12:7). Infelizmente essa é uma realidade que o escritor de Hebreus não poderia considerar óbvia se vivesse nos dias de hoje, pois a correção dos pais parece minguar a olhos vistos. Basta pensar na onda de educação antiautoritária que deixava as crianças fazerem o que bem entendiam. Advogava-se o direito da criança tomar suas próprias decisões desde a mais tenra idade. O resultado foi uma catástrofe, e voltou-se a falar em limites e regras. Mais o estrago estava feito, e o que se vê é uma busca desenfreada pela satisfação própria, de pais e filhos. Aqui se encaixa a pergunta: será que estou satisfeito comigo mesmo, como estavam os cristãos de Laodicéia, dizendo: “Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta...” (Ap. 3:17), ou tenho o ardente desejo de me parecer com meu Senhor e Pai celestial? Será que oro, pedindo: “Senhor Jesus, transforma-me na tua imagem!”?

Voltando os escravos (servos), vale a pena prestar atenção aos usos variados dessa palavra nas cartas do Novo Testamento. O apóstolo Paulo denomina a si mesmo de servo de Jesus Cristo e os cristãos de Roma de servos da justiça. Como filhos amados e resgatados por alto preço, antes escravos do pecado, agora não estamos mais debaixo da Lei, mas nos submetemos à graça. Não somos mais escravos do pecado, mas escravos da justiça (Rm, 1:1; Rm. 6:12)! Como disse Jesus, “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro...” (Mt 6:24). Neutralidade é possível, e temos de optar. Jamais poderemos ficar neutros quando se trata de Deus ou do pecado. Por isso, existem tantas exortações nas epístolas, por exemplo: “Pois que? Pecaremos porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? De modo nenhum. Não sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?” (Rm 6:15-16).

“Mas agora, libertados do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna” Rm 6:22. É assim que vivemos, como filhos de Deus felizes, mas também como servos e servas do Senhor, e tudo isso só pela graça!


Por Deiter Steiger
Publicado na Revista Chamada da Meia-Noite, fevereiro de 2012, pagina 4.

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